Tempo de esperança
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Ecos da noite e dia de Natal
Os leitores habituais desta Coluna conhecem bem alguns ´ritos´ deste espaço, que na origem e na essência deveria focar exclusivamente na política e na economia.
Mas o relevante, o profundo e o transcendente têm sempre espaço em APARTE.
E nas edições sequenciais ao Natal, é tradicional o resumo das pregações do papa. É o que segue, começando pela celebração da apelidada ´Missa do Galo´.
Recondução
“Entre o espanto dos pobres e o canto dos anjos, o céu abre-se sobre a terra: Deus fez-se um de nós para que fossemos como Ele, desceu para o meio de nós a fim de nos reerguer e nos reconduzir ao abraço do Pai.
Pequenez de uma criança
“É esta, irmãs e irmãos, a nossa esperança. Deus é o Emanuel, é Deus conosco. O infinitamente grande se fez pequeno, a luz divina brilhou nas trevas do mundo, a glória do céu apareceu na terra. Como? Na pequenez de uma Criança.
Esperança viva
“E se Deus vem, mesmo quando o nosso coração parece uma pobre manjedoura, então podemos dizer: a esperança não está morta, a esperança está viva e envolve a nossa vida para sempre! A esperança não desilude.
Convite à entrada
“Com a abertura da Porta Santa iniciamos um novo Jubileu: cada um de nós pode entrar no mistério desse anúncio de graça. Esta é a noite em que a porta da esperança foi escancarada para o mundo; esta é a noite em que Deus diz a cada um: há esperança também para ti!
“Perdoa sempre”
“Há esperança para cada um de nós. Mas não esqueçais, irmãs e irmãos, que Deus perdoa tudo, Deus perdoa sempre. Não esqueçais isto, que é uma maneira de compreender a esperança no Senhor.
“Pronto para o encontro”
“Vamos ver o Senhor que nasceu para nós, com o coração leve e desperto, pronto para o encontro, para podermos então traduzir a esperança nas situações da nossa vida. E esta é a nossa tarefa: traduzir a esperança nas diferentes situações da vida.
“Promessa do Senhor”
“Porque a esperança cristã não é um final feliz que deve ser aguardado passivamente, não é um ´happy end´ (final feliz) de um filme: é a promessa do Senhor a ser acolhida aqui e agora, nesta terra que sofre e geme.
Coragem pra mudar
“A esperança pede-nos, portanto, que não nos demoremos, que não nos arrastemos nos hábitos, que não nos detenhamos na mediocridade e na preguiça; pede-nos – como diria Santo Agostinho – que nos indignemos com as coisas que não estão bem e tenhamos a coragem de as mudar.
“Sonhadores sem cansar”
“(a esperança) Pede-nos que nos façamos peregrinos em busca da verdade, sonhadores que nunca se cansam, mulheres e homens que se deixam inquietar pelo sonho de Deus, que é o sonho de um mundo novo, onde reinem a paz e a justiça.
Aprendizado
“Aprendamos com o exemplo dos pastores: a esperança que nasce nesta noite de Natal não tolera a indolência dos sedentários e a preguiça dos que se acomodaram no seu próprio conforto – e muitos de nós corremos o risco de nos acomodar no próprio conforto.
Repulsa ao “calculismo”
“A esperança não admite a falsa prudência dos que não se arriscam por medo de se comprometerem e o calculismo dos que só pensam em si próprios; a esperança é incompatível com a vida tranquila dos que não levantam a voz contra o mal e contra as injustiças cometidas diretamente sobre os mais pobres.
“Audácia”
“Pelo contrário, a esperança cristã, ao mesmo tempo que nos convida a esperar pacientemente que o Reino germine e cresça, exige de nós a audácia de antecipar hoje essa promessa, através da nossa responsabilidade, mas não só, através também da nossa compaixão. E aqui talvez nos faça bem questionar a nossa compaixão: será que tenho compaixão? Sei sofrer com? Pensemos nisso.
Súplica incomum
“Um grande padre escritor rezava assim no Santo Natal: ´Senhor, peço-vos um pouco de tormento, inquietação e remorso. No Natal, gostaria de me encontrar insatisfeito. Contente, mas também insatisfeito. Contente por causa do que fazeis, insatisfeito por causa da minha falta de respostas. Tirai, por favor, a nossa falsa paz e colocai um punhado de espinhos na nossa ´manjedoura´ que está sempre muito cheia. Ponde nas nossas almas o desejo de algo mais´ (A. Pronzato). O desejo de algo mais. Não fiques parado. Não esqueçamos que a água parada é a primeira a se corromper.
“Algo mais”
“A esperança cristã é precisamente o “algo mais” que nos pede para avançarmos “apressadamente” (…) Este é o tempo da esperança! E ele convida-nos a redescobrir a alegria do encontro com o Senhor, chama-nos a uma renovação espiritual e compromete-nos na transformação do mundo, para que este se torne verdadeiramente um tempo jubilar.
Levar adiante
“A nós, a todos nós, o dom e o compromisso de levar a esperança onde ela se perdeu: onde a vida está ferida, nas expectativas traídas, nos sonhos desfeitos, nos fracassos que despedaçam o coração; no cansaço de quem já não aguenta mais, na solidão amarga de quem se sente derrotado, no sofrimento que consome a alma; nos dias longos e vazios dos encarcerados, nos aposentos estreitos e frios dos pobres, nos lugares profanados pela guerra e pela violência. Levar esperança nestes lugares, semear esperança nesses locais”.
Dia de Natal
Trechos da mensagem do papa Francisco “Urbi et Orbi” (à cidade de Roma e ao mundo).
Porta sempre aberta
“O mesmo Espírito de Amor e de Vida que fecundou o ventre de Maria e da sua carne humana formou Jesus (…) se encarna de novo e realmente a Palavra eterna de salvação, que diz a cada homem, a cada mulher, e ao mundo inteiro – é esta a mensagem –: Eu amo-te, perdoo-te, volta para mim, a porta do meu coração está aberta para ti!
“Voltemos para Ele”
“A porta do coração de Deus está sempre aberta: voltemos para Ele! Regressemos ao coração que nos ama e perdoa! Deixemo-nos perdoar por Ele, deixemo-nos reconciliar com Ele! Deus perdoa sempre! Deus perdoa tudo! Deixemo-nos perdoar por Ele!
“Para todos”
“A Porta da salvação está aberta para todos. Jesus é a Porta; é a Porta que o Pai misericordioso abriu no meio do mundo, no meio da história, para que todos possamos voltar para Ele. Todos nós somos como ovelhas tresmalhadas (desgarradas) e precisamos de um Pastor e de uma Porta para regressar à casa do Pai. Jesus é o Pastor, Jesus é a Porta.
“Reconciliação”
“Não tenhais medo! A Porta está aberta, a porta está escancarada! Não é necessário bater à porta. Ela está aberta! Vinde! Deixemo-nos reconciliar com Deus, e então reconciliar-nos-emos conosco mesmos e poderemos reconciliar-nos uns com os outros, até com os nossos inimigos.
“Tudo pode”
“A misericórdia de Deus tudo pode, desfaz todos os nós, derruba todos os muros de divisão, a misericórdia de Deus dissolve o ódio e o espírito de vingança. Vinde! Jesus é a Porta da Paz.
Parados na soleira
“Muitas vezes paramos apenas na soleira da porta e não temos a coragem de a atravessar, porque ela nos interpela. Entrar pela Porta exige o sacrifício de dar um passo – pequeno sacrifício; dar um passo para uma coisa tão grande –, exige deixar para trás contendas e divisões, para se abandonar nos braços abertos do Menino que é o Príncipe da Paz.
Coragem
“Neste Natal, início do Ano jubilar, convido todas as pessoas, todos os povos e nações a terem a coragem de atravessar a Porta, a tornarem-se peregrinos da esperança, a calarem as armas – a calarem as armas! – e a superarem as divisões!
“Porta escancarada”
“Jesus, o Verbo eterno de Deus feito homem, é a Porta escancarada; é a Porta escancarada que somos convidados a atravessar para redescobrir o sentido da existência e a sacralidade de todas as vidas – todas as vidas são sagradas –, e para recuperar os valores basilares da família humana.
À espera
“Ele espera-nos na soleira da porta. Espera por cada um de nós, sobretudo pelos mais frágeis: espera as crianças, todas as crianças que sofrem por causa da guerra e da fome; espera os idosos, os nossos antepassados, muitas vezes obrigados a viver em condições de solidão e abandono.
“Sempre filhos de Deus”
“Espera aqueles que perderam a própria casa ou fogem da sua terra para tentar encontrar um refúgio seguro; espera os que perderam ou não encontram trabalho; espera os prisioneiros que, apesar de tudo, continuam a ser filhos de Deus, sempre a ser filhos de Deus; espera aqueles que são perseguidos por causa da sua fé e são tantos!
O que não faltar
“Neste dia de festa, não pode faltar a nossa gratidão para com aqueles que, de forma silenciosa e fiel, se dedicam ao bem: estou a pensar nos pais, educadores e professores, que têm a grande responsabilidade de formar as gerações futuras; estou a pensar nos profissionais de saúde, nas forças de segurança, naqueles que se empenham em obras de caridade, especialmente nos missionários espalhados pelo mundo, que levam luz e conforto a tantas pessoas em dificuldade. A todos eles queremos dizer: obrigado, obrigado!
Perdão
“Que o Jubileu seja uma ocasião para perdoar as dívidas, sobretudo as que oneram os países mais pobres. Cada um é chamado a perdoar as ofensas recebidas, porque o Filho de Deus, que nasceu no frio e na escuridão da noite, nos perdoa tudo. Ele veio para nos curar e perdoar. Peregrinos de esperança, saiamos ao seu encontro! Abramos-Lhe as portas do nosso coração. Abramos-Lhe as portas do nosso coração, tal como Ele nos escancarou a porta do seu Coração”.
Em tempo
A expressão ´Missa do Galo´, apesar de origem imprecisa, tudo indica que tem correlação com o fato de o canto do Galo anunciar primeiramente a chegada de um novo dia, pelo menos entre nós, latinos.
E a citada missa era originariamente celebrada a partir da meia noite, coisa que a insegurança urbana praticamente baniu.
Dica pra você
Nesta quarta-feira, foi publicada uma edição especial de APARTE, que reproduz trechos de uma belíssima crônica do escritor e religioso Frei Betto.
E encerra com uma reflexão (infelizmente, ainda atual) do ex-bispo de Campina Grande, Dom Luís Fernandes.
Vale a pena ler. Acesse aqui.
Paz e luz para todos vocês!…
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