Ritos finais
Foto: ParaibaOnline
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As palavras não perecem
Os leitores habituais de APARTE sabem da desmedida admiração deste colunista pelo papa Francisco, cujas reflexões e ensinamentos são constantes neste espaço.
Muito há que se falar – e por muito tempo – sobre ele.
Nesta edição, a homenagem inicial ocorre com a reprodução de suas últimas palavras escritas, pronunciadas na última semana por cardeais e/ou assessor imediato.
Começo pela catequese da última quarta-feira. É o que segue.
Deus não resiste
“O Evangelho quer confiar-nos uma mensagem de esperança, porque nos diz que onde quer que nos tenhamos perdido, seja como for que nos tenhamos perdido, Deus vem sempre à nossa procura.
“Dom precioso”
“O amor é sempre um compromisso, há sempre algo que devemos perder para ir ao encontro do outro (…) O amor é um dom precioso, deve ser tratado com cuidado”.
Sexta-feira Santa
Meditações da Via Crucis: “O caminho para o Calvário passa pelas estradas do nosso dia-a-dia. Nós vamos, Senhor, normalmente na direção oposta à vossa. Por isso mesmo, pode acontecer que encontremos o vosso rosto e que cruzemos com o vosso olhar.
“Mudar o mundo”
“Viestes para mudar o mundo: para nós isso significa mudar de direção, ver a bondade das vossas pegadas, deixar trabalhar no nosso coração a memória do vosso olhar.
“Preço elevado”
“É verdade que nos custa trilhar o caminho de Jesus: neste mundo que tudo calcula, a gratuidade tem um preço elevado.
“Uma resposta”
“O caminho da vossa cruz, Senhor Jesus, não é apenas uma subida. É a vossa descida em direção àqueles que amastes, ao mundo amado por Deus. É uma resposta, um assumir a responsabilidade. Custa, como custam as relações mais verdadeiras, os amores mais bonitos.
“Pesa mais”
“O egoísmo pesa mais do que a cruz e a indiferença mais do que a partilha.
“O céu está aqui”
“Também o caminho da Cruz está marcado a fundo na terra: os grandes afastam-se dele, gostariam de tocar o céu. Em vez disso, o céu está aqui, abaixado, encontramo-lo mesmo caindo, permanecendo no chão.
“Economia de Deus”
“Os construtores de Babel dizem-nos que não se pode errar e que quem cai está perdido. É o canteiro de obras do inferno. A economia de Deus, pelo contrário, não mata, nem descarta, nem esmaga. É humilde, fiel à terra.
“Aventura humana”
“Cair e levantar-se; cair e voltar a levantar-se. Foi assim, Senhor Jesus, que nos ensinastes a entender a aventura da vida humana. Humana porque é aberta.
“Recomeços”
“Nós não permitimos que as máquinas cometam erros: pretendemos que sejam perfeitas. As pessoas, pelo contrário, vacilam, distraem-se, perdem-se. Porém, conhecem a alegria: a dos recomeços, dos renascimentos.
“Peças únicas”
“Os seres humanos não nascem de modo mecânico, mas artesanal: somos peças únicas, um entrelaçamento de graça e responsabilidade.
Negar o caminho
“Senhor, fizestes-vos um de nós, não tivestes medo de tropeçar e de cair. Aqueles que se envergonham disso, aqueles que ostentam a infalibilidade, aqueles que escondem as suas próprias quedas e não perdoam as dos outros negam o caminho que escolhestes.
“Mundo de cálculos”
“Construímos um mundo que funciona assim: um mundo de cálculos e algoritmos, de lógicas frias e interesses implacáveis.
Lágrimas
“São necessárias lágrimas de reflexão, das quais não nos devemos envergonhar, lágrimas que não devem ser mantidas em segredo. A nossa convivência ferida, Senhor, neste mundo despedaçado, precisa das lágrimas sinceras, não das de circunstância.
“Deus vê o coração”
“Diante da vossa misericórdia, Senhor Jesus, cai toda a hipocrisia. As máscaras, as belas fachadas já não são necessárias. Deus vê o coração. Ele ama o coração. Aquece o coração.
Citando São Francisco
“Deus altíssimo e glorioso, iluminai as trevas do meu coração. Dai-me fé reta, esperança certa, caridade perfeita e profunda humildade. Dai-me, Senhor, sabedoria e discernimento para cumprir a vossa verdadeira e santa vontade. Amém”.
Vigília Pascal
(último sábado) “A Vigília Pascal recorda-nos que a luz da Ressurreição ilumina o caminho pouco a pouco, irrompe na escuridão da história sem alarido, brilha discretamente nos nossos corações. A ela corresponde uma fé humilde, desprovida de qualquer triunfalismo.
“Não é uma meta”
“A Páscoa do Senhor não é um acontecimento espetacular com o qual Deus se impõe a si mesmo e nos obriga a acreditar n’Ele; não é uma meta que Jesus alcança por um caminho fácil, contornando o Calvário; e nós tampouco podemos vivê-la de maneira despreocupada e sem hesitação interior.
“Pequenos rebentos”
“Pelo contrário, a Ressurreição é semelhante a pequenos rebentos de luz que fazem paulatinamente o seu caminho, sem fazer barulho, por vezes ainda ameaçados pela noite e pela incredulidade.
Enfrentamento
“Este ´estilo´ de Deus liberta-nos de uma religiosidade abstrata, iludida ao pensar que a ressurreição do Senhor resolve tudo de um modo mágico. Longe disso: não podemos celebrar a Páscoa sem continuar a enfrentar as noites que trazemos no coração e as sombras de morte que muitas vezes pairam sobre o mundo.
“A cumprir-se”
“Cristo venceu o pecado e destruiu a morte, mas, na nossa história terrena, o poder da sua ressurreição ainda está a cumprir-se.
“Um novo começo”
“Quando ainda sentimos o peso da morte dentro do nosso coração, quando vemos as sombras do mal que continuam a sua marcha ruidosa no mundo, quando sentimos arder as feridas do egoísmo ou da violência na nossa carne e na nossa sociedade, não desanimemos, voltemos ao anúncio desta noite: ainda que estejamos nas trevas, a luz brilha lentamente; aguarda-nos a esperança de uma vida nova e de um mundo finalmente libertado; um novo começo pode surpreender-nos, mesmo que às vezes pareça impossível.
“Pequenos gestos”
“Reproduzir a Páscoa na nossa vida e tornarmo-nos mensageiros de esperança, construtores de esperança, enquanto tantos ventos de morte ainda sopram sobre nós. Podemos fazê-lo com as nossas palavras, os nossos pequenos gestos quotidianos, as nossas escolhas inspiradas no Evangelho. Toda a nossa vida pode ser uma presença de esperança.
Esperança
“Queiramos sê-lo para aqueles que não têm fé no Senhor, para quem se perdeu pelo caminho, para os que desistiram ou estão curvados sob o peso da vida, para quem está sozinho ou fechado na própria dor, para todos os pobres e oprimidos da Terra, para as mulheres humilhadas e assassinadas, para as crianças maltratadas e para aquelas que nunca nasceram, para as vítimas da guerra. A todos e a cada um levemos a esperança da Páscoa!
“Estação da esperança”
“O tempo pascal é estação de esperança (…) A Páscoa traz a boa notícia de que, embora as coisas no mundo pareçam estar cada vez piores, o mal já foi vencido. A Páscoa permite-nos afirmar que, embora Deus pareça distante e nós permaneçamos absorvidos por tantas pequenas coisas, o Senhor caminha conosco (…) Demos espaço à luz do Ressuscitado! E tornar-nos-emos construtores de esperança para o mundo”.
Domingo de Páscoa
“Jesus, com efeito, ressuscitou dos mortos e, portanto, já não se encontra no túmulo. É preciso procurá-lo noutro lugar. Este é o anúncio da Páscoa: é preciso procurá-lo noutro lugar.
Não é uma história bonita
“Cristo ressuscitou. Não podemos encerrá-lo numa bonita história para contar, não podemos fazer dele um herói do passado ou pensar nele como uma estátua colocada na sala de um museu!
“Procurá-lo”
“Pelo contrário, temos de O procurar, e, por isso, não podemos ficar parados. Temos de nos pôr em movimento, sair para O procurar: procurá-lo na vida, procurá-lo no rosto dos irmãos, procurá-lo no dia a dia, procurá-lo em todo o lado, exceto naquele túmulo.
“Em toda parte”
“Procurá-lo sempre. Porque se Ele ressuscitou, então está presente em toda a parte, habita no meio de nós, esconde-se e revela-se ainda hoje nas irmãs e nos irmãos que encontramos pelo caminho, nas situações mais anônimas e imprevisíveis da nossa vida.
“Sempre conosco”
“Ele está vivo e permanece sempre conosco, chorando as lágrimas de quem sofre e multiplicando a beleza da vida nos pequenos gestos de amor de cada um de nós.
“Tudo menos acomodação”
“A fé pascal, que nos abre ao encontro com o Senhor ressuscitado e nos dispõe a acolhê-lo na nossa vida, é tudo menos uma acomodação estática ou um pacífico conformar-se numa segurança religiosa qualquer.
Recusa às ilusões
“Não podemos estacionar o nosso coração nas ilusões deste mundo, nem fechá-lo na tristeza; temos de correr, cheios de alegria.
“Tudo é novo”
“Afastai de nós, ó Deus, a poeira triste da rotina, do cansaço e do desencanto; dai-nos a alegria de acordar, a cada manhã, com os olhos maravilhados, para ver as cores inéditas daquele amanhecer, único e diferente de todos os outros. […] Tudo é novo, Senhor, e nada repetido, nada envelhecido”.
Mensagem
(Urbi et Orbi – à cidade de Roma e ao mundo, também no domingo) “Hoje ressoa finalmente na Igreja o Aleluia, que corre de boca em boca, de coração a coração, e o seu cântico faz chorar de alegria, no mundo inteiro, o povo de Deus.
Triunfos
“O amor venceu o ódio. A luz venceu as trevas. A verdade venceu a mentira. O perdão venceu a vingança. O mal não desapareceu da nossa história e permanecerá até ao fim, mas já não lhe pertence o domínio, não tem qualquer poder sobre quem acolhe a graça deste dia.
Fundamento
“Sim, a ressurreição de Jesus é o fundamento da esperança: a partir deste acontecimento, ter esperança já não é uma ilusão. Não! Graças a Cristo crucificado e ressuscitado, a esperança não engana!
“A caminho”
“Quem espera em Deus coloca as suas mãos frágeis na mão grande e forte d’Ele, deixa-se levantar e põe-se a caminho: juntamente com Jesus ressuscitado.
“Festa da vida”
“A Páscoa é a festa da vida! Deus criou-nos para a vida e quer que a humanidade ressurja! Aos seus olhos, todas as vidas são preciosas! Tanto a da criança no ventre da mãe, como a do idoso ou a do doente, considerados como pessoas a descartar num número cada vez maior de países.
“Quanto desprezo”
“Quanto desejo de morte vemos todos os dias em tantos conflitos que ocorrem em diferentes partes do mundo! Quanta violência vemos com frequência também nas famílias, dirigida contra as mulheres ou as crianças! Quanto desprezo se sente por vezes em relação aos mais fracos, marginalizados e migrantes!
“A paz é possível”
“Gostaria que voltássemos a ter esperança de que a paz é possível! A partir do Santo Sepulcro, Igreja da Ressurreição, onde este ano a Páscoa é celebrada no mesmo dia por católicos e ortodoxos, se irradie sobre toda a Terra Santa e sobre o mundo inteiro a luz da paz.
“Entreguemo-nos ao Senhor”
“É preocupante o crescente clima de antissemitismo que se está a espalhar por todo o mundo. E, ao mesmo tempo, o meu pensamento dirige-se ao povo, em particular, à comunidade cristã de Gaza, onde o terrível conflito continua a gerar morte e destruição e a provocar uma situação humanitária dramática e ignóbil.
“Entreguemo-nos ao Senhor, o único que pode renovar todas as coisas”.
“… Como eu gostaria de uma Igreja pobre… e para os pobres…” (papa Francisco)…
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