Papa Francisco: “A morte não é o fim de tudo”
Foto: ParaibaOnline
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Hora do adeus
Ainda sob a transcendentalidade do período Pascal, estamos nos despedindo definitivamente do (corpo) Papa Francisco neste sábado.
Por muito tempo, ele prosseguirá vivificado no que disse, escreveu e praticou.
Continuará sendo, mercê de Deus, uma presença constante em APARTE, no compartilhamento de tantos e tão práticos e profundos ensinamentos.
Garimpo
Nesta edição especial, dois instantes que nos remetem ao ´santo padre´.
Inicialmente, trechos da homilia proferida pelo bispo diocesano de Campina Grande, Dom Dulcênio Fontes de Matos, por ocasião da missa celebrada na última segunda-feira em intenção ao pastor que nos deixa.
“Improviso”
“Parece que, muitas vezes, temos que improvisar na vida… Mas nem sempre conseguimos, não é? Não nascemos para o improviso… não nascemos para o imprevisto…
“Abraço”
“No dia 29 de novembro de 2019, antes mesmo do ano em que o mundo pararia por conta do Coronavírus, na homilia da missa matutina na Casa Santa Marta, o Papa Francisco fez uma reflexão sobre o fim que aguarda cada pessoa, a morte, apresentando-a como o momento do abraço com o Senhor. Partindo disso, queria refletir sobre a vulnerabilidade humana, teor de sua homilia naquela mesma manhã.
“Ele ficará”
“Em sua homilia, o Papa reiterou que ´tudo acabará´, mas “Ele ficará”, e estas palavras o inspiraram para convidar cada um a refletir sobre o momento da morte.
“Acreditando-nos eternos”
“Nenhum de nós sabe quando acontecerá, ou melhor, com frequência temos a tendência de adiar o pensamento, acreditando-nos eternos, mas não é assim: todos nós temos esta fraqueza de vida, esta vulnerabilidade. A vulnerabilidade que é o eco da mortalidade.
“Ilusão”
“O que falar à nossa ilusão de pensarmos ser eternos? A esperança no Senhor! Engana-nos esse pensar na eternidade aqui na terra.
“Encontro com Ele”
“A certeza da morte, ao invés, está escrita na Bíblia e no Evangelho, mas o Senhor nos apresenta como um ´encontro com Ele´´ e está acompanhada pela palavra ´esperança´. O Senhor nos fala para estarmos preparados para o encontro, e a morte é um encontro: é Ele quem vem nos encontrar, é Ele quem vem nos pegar pela mão e nos levar até Ele.
“Evangelho”
“Eu não gostaria que essa simples pregação fosse um aviso fúnebre! É simplesmente Evangelho, é simplesmente vida, é simplesmente dizer um ao outro: somos todos vulneráveis e todos temos uma porta à qual o Senhor um dia baterá.
Toque da campainha
“É necessário, portanto, preparar-se bem para o momento em que a campainha tocará, o momento em que o Senhor baterá à nossa porta: rezemos um pelo outro – foi o convite do Papa também aos fiéis presentes naquela Missa – para estar prontos, para abrir a porta com confiança ao Senhor que vem. De tudo, levaremos o abraço do Senhor!
Traços particulares
“Papa Francisco destacou-se pela sua humildade, simplicidade e preocupação com as questões sociais. Porém, nunca! Nunca! Nunca deixou que a Igreja de Nosso Senhor parecesse a instituição ideológica de assistencialismo estéreo, mas a verdadeira instituição de caridade do mundo. A única que dar comida com catequese. E, deveríamos, por meio disso, pedi-lo perdão por muitas vezes que confundimos sua proximidade e seu amor, com ideologias políticas sociais.
“Homem de Deus”
“O mundo hoje chora! Sim! (…) O mundo é quem nos ´sacode´ e diz: vocês realmente têm ou tinham um verdadeiro homem de Deus! Isso nos serve de escuta… de reflexão… por que demoramos a enxergar o seu valor em nosso meio?
Extrapolou
“O cardeal Bergoglio não escolheu o nome Francisco à toa (…) Ele extrapolou as barreiras do cristianismo e do catolicismo. Estamos não só perdendo um Papa e um Chefe de Estado, estamos perdendo um homem de Deus.
“Amar humanamente”
“Sabe qual foi sua vulnerabilidade? Amar tão humanamente… É, meus filhos, amar tão humanamente deixa-nos vulneráveis, porque não enxergamos nada, senão apenas o amor. Que grande exemplo! Quiçá, porventura, tivéssemos a mesma coragem de amar como ele amou os pobres, os idosos, as viúvas, os excluídos, os indigentes.
Sem protocolo
“Esse homem realmente não tinha protocolo… para quê protocolo para amar? Há protocolo para o amor? Por que medir amor, formas de amar, ou como devo amar? Amar sem medida deve ser nosso protocolo de vida.
Solitário
“Eu poderia elencar várias cenas fortes sobre nosso Santo Padre nesta noite, contudo, escolhi a cena que mais tocou os olhos e o coração do mundo: aquele velhinho subindo vagarosamente os degraus da praça São Pedro naquela noite nublada para rezar pela pandemia do Coronavírus.
Imensidão
“Pela primeira vez na história milenar da Igreja Católica, o Papa rezou naquele dia, sozinho, sem auxiliares, sem destino, diante da imensa praça vazia (silenciosa e fria) de São Pedro e deu a bênção e a indulgência plenária ao mundo pela pandemia do novo coronavírus que o atormentava…
“Esperança”
“Francisco clamou: “Deus onipotente e misericordioso, olha a nossa dolorosa situação: conforta teus filhos e abre nossos corações à esperança, porque sentimos sua presença de Pai em nosso meio”.
“Para todos”
“Francisco sempre falando de misericórdia e esperança, não é? Era visível o esforço daquele homem em tudo e para todos.
“Parece uma desculpa”
“Francisco levou a ressurreição com o sorriso e alegria que refletem o seu modo de ser e seguir a Deus. Embora debilitado, distribuiu simpatia. Uma saudação de Feliz Páscoa… Parece uma desculpa perfeita para se despedir do mundo.
“Sem seu consolo”
“O que nos dói não é a Sé (Santa Sé) vazia… Mas a Sé sozinha, sem seu consolo, porque a vacância não se resume numa cadeira vazia, porém, numa cadeira silenciosa sem fala. O vazio pode ser preenchido, mas “o som ou o timbre da voz” nunca será imitado ou reproduzido tal e qual.
“E como ficamos?”
“Francisco, esperaste apenas as alegrias da Ressurreição do Senhor neste ano da Esperança para partires com Ele também. E como ficamos? Com saudade! Com muita saudade! Farás falta… Obrigado por nos descrever como é ser Peregrino da Esperança.
“Santo padre”
“Conhecemos, verdadeiramente, um Santo Padre… homem que carregou em seus ombros o peso do mundo, mas que foi auxiliado pela misericórdia de Deus.
Foi amado
“Uma coisa eu tenho certeza: a Igreja do Brasil e muitos brasileiros o amaram! As suas visitas e a JMJ (Jornada Mundial da Juventude) do Brasil são eco desse amor!
Cântico
“Diante de nossa vulnerabilidade e refletindo que só Ele permanece, eu só queria cantar com vocês e para o mundo, talvez, aquilo que o papa muito rezou sozinho no quarto ou em seu leito, apenas a sós com Deus: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz… (Oração de São Francisco)”.
Prefaciador
Esta semana, o Vaticano publicou um texto inédito escrito pelo Papa Francisco como prefácio para o novo livro do cardeal Ângelo Sola, arcebispo emérito de Milão (Itália), intitulado: “Na espera de um novo começo. Reflexões sobre a velhice”.
O livro está sendo lançado esta semana. A seguir, recortes do texto que foi disponibilizado.
Sem temor
“Sim, não devemos ter medo da velhice, não devemos temer abraçar o envelhecer, porque a vida é a vida, e adoçar a realidade significa trair a verdade das coisas.
“Valores” urgentes
“Porque dizer ‘velho’ não significa ‘descartável’, como às vezes uma cultura degradada do descarte nos faz pensar. Dizer velho, ao contrário, é dizer experiência, sabedoria, discernimento, ponderação, escuta, lentidão… Valores dos quais precisamos urgentemente!
Exemplo
“Já ressaltei várias vezes como o papel dos avós é fundamental para o desenvolvimento equilibrado dos jovens e, em última análise, para uma sociedade mais pacífica. Porque seu exemplo, suas palavras, sua sabedoria podem inspirar nos mais jovens um olhar mais amplo, a memória do passado e o apego a valores duradouros.
“Farol”
“Em meio à correria das nossas sociedades, muitas vezes voltadas para o efêmero e para o gosto doentio pela aparência, a sabedoria dos avós torna-se um farol que brilha, ilumina a incerteza e dá direção aos netos, que podem tirar da experiência deles um ‘algo a mais’ para sua vida cotidiana”.
“Certeza consoladora”
Ainda o papa: “Uma certeza consoladora: a morte não é o fim de tudo, mas o começo de algo. É um novo começo, porque a vida eterna – que quem ama já experimenta aqui na terra em meio às ocupações do dia a dia – é o começo de algo que não terá fim. E é exatamente por isso que é um começo ‘novo’: porque viveremos algo que nunca vivemos plenamente – a eternidade.”
“O Papa Francisco não é um nome, mas um projeto de Igreja (teólogo Leonardo Boff)…
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