Arimatéa Souza

O “amigo velho” se foi

Arimatéa Souza
Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 0:39

Arimatea Souza

Foto: ParaibaOnline

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Partida

O final de semana foi de despedida de um paraibano ilustre, notadamente nas áreas da política, da educação e da cultura. Ao cabo de muitos meses de cumulativas restrições da vida cotidiana, devido a uma enfermidade degenerativa, nos deixou o ex-professor, ex-deputado e integrante da Academia de Letras Evaldo Gonçalves de Queiroz – o ´amigo velho´, uma expressão que ele gostava e que ´herdou´ de seu grande amigo e líder, o ex-governador Ernani Satyro.

Atrativo

Apenas na fase final da atuação parlamentar de Evaldo é que tive a oportunidade de me aproximar dele. Era sempre uma conversa envolvente para quem aprecia o mundo da política em sua concepção clássica.

Ponto final

A contragosto, mas encarando como missão partidária, ele abriu mão de mais uma bem encaminhada reeleição para a Câmara Federal para encarar uma temerária candidatura a vice-governador numa chapa encabeçada por Lúcia Braga, esposa do ex-governador Wilson Braga.

Prestação de contas

Evaldo foi um político cioso do seu mandato, coisa cada vez mais rara nos tempos atuais.

A cada final de ano parlamentar, cuidava de elaborar e de distribuir com eleitores e autoridades constituídas um livro com o resumo do que havia produzido no exercício do mandato.

Rotina

Nos finais de semana, em tempos de limitação dos instrumentos de comunicação, transitava pelas redações dos jornais levando informações sobre a sua atuação parlamentar, como também marcava presença no ´calçadão´ e na Praça da Bandeira, no centro de Campina Grande, interagindo como amigos e populares para tirar a ´pulsação´ da cidade.

Convivência

Coube ao amigo comum (já falecido), jornalista Assis Costa, nos aproximar. Foram incontáveis cafés e encontros nos quais conversávamos sobre os assuntos os mais diversos.

Resgate

Eu adorava, especialmente, os seus relatos sempre com detalhes – e em muitos deles, na condição de protagonista ou de testemunha – de fatos relevantes da política estadual.

Incentivo

Quando surgiu uma vaga na Academia de Letras de Campina Grande, decorrente da ´passagem´ do professor Stênio Lopes, Evaldo foi um dos que me estimularam para concorrer à sua ocupação, até por conta dessa cadeira – número 17 – já ter sido titulada preteritamente por Ernani Satyro.

Intermediação

Evaldo era bastante comedido no encaminhamento de seus desejos, ao ponto de ter se valido de Assis Costa – e não solicitar diretamente a mim – para que os seus artigos semanais fossem também publicados no ParaibaOnline.

Tributo

Ao ´amigo velho´, além do represamento no coração da estima e da admiração, a melhor homenagem talvez seja resgatar no presente retalhos de sua chegada à Academia de Letras de Campina Grande, até porque a dita ´imortalidade´ atribuída a quem ocupa entidade desse tipo reside justamente no gesto periódico de resgatar no presente pessoas que tenham sido marcantes em determinada quadra histórica de uma comunidade.

Garimpo

Pois bem, seguem trechos do discurso de posse de Evaldo Gonçalves, trocando as lágrimas próprias e inevitáveis desse instante de adeus pelo pulsar das palavras que se projetam muito além da finitude humana.

“Autoestima”

“Até diria que retomo um pouco de minha autoestima tão destroçada pelo exercício continuado de uma vida pública, que se prolonga por mais de trinta anos, e que quase esgota toda a minha quota de paciência e renúncia que Deus me concedera.

“Única alternativa”

“Sim, veleidades de intelectual sempre cultivei (…) Além dos deveres escolares, a minha única alternativa de lazer era a leitura dos autores famosos.

Gratidão

“Agradeço a Deus por estes momentos, que certamente não me transformarão em intelectual, todavia, me darão a segurança de uma convivência proveitosa e prenhe de ensinamentos úteis e permanentes.

“Reclamos sociais”

“Aqui (na Academia) não se foge ao tumulto das ruas, nem aos reclamos sociais. Todos quantos integram, e, por ventura, venham a integrá-la ulteriormente, estão bem conscientes dessas suas responsabilidades maiores com a comunidade em que se inserem.

“Prêmio”

“(chegar a esta Academia) É prêmio desproporcional para quem tudo tem sido inexoravelmente limitado, desde os atributos pessoais de inteligência às circunstâncias que têm envolvido as modestas condições de vida”.

Sobrevivente

Ainda Evaldo em sua posse na Academia: “Este cenário, rico e estuante de prodigiosas inteligências, é aconchego demasiado honroso para o menino pobre das Jaramataias (Puxinanã), que sobreviveu às estatísticas pavorosas dos óbitos do Cariri da Paraíba, de depois de ter, por redobrado milagre, ultrapassado as sentenças incorrigíveis das leis da genética”.

Em tempo: Evaldo ocupava a cadeira de número 37, que tinha como patrono Samuel Vital Duarte, político e jornalista que nasceu em Alagoa Nova.

 

“A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas” (Francis Bacon, filósofo inglês)…

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