Tessituras
Elizabeth Marinheiro. Publicado em 15 de outubro de 2017 às 7:24
Por Elizabeth Marinheiro (*)
Cidade maravilhosa? Mais pertinente tê-la cidade dos opostos, que não se complementam…
Há muitos anos, Bandeira já sentia saudades do rio antigo:
“Aqui eu não sou feliz
A vida está cada vez
Mais cara, e a menor besteira
Nos custa os olhos da cara.
O trânsito é uma miséria:
Sair a pé pelas ruas
Desta capital cidade
É quase temeridade.
E eu não tenho cadilac
Para em vez de atropelado,
Atropelar sem piedade
Meus pedestres semelhantes.
Oh! que saudades que eu tenho
Do Rio como era dantes!
O Rio que tinha apenas
Quinhentos mil habitantes.
O Rio que conheci
Quando vim para cá menino:
Meu velho Rio gostoso,
Cujos dias revivi
Lendo deliciosamente
O livro de Coaraci.
Cidade onde, rico ou pobre
Dava gosto se viver.
Hoje ninguém está contente.
Hoje, meu Deus, todo mundo
Traz na boca a cinza amarga
Da frustração…Minha gente,
Vou-me embora pra Pasárgada.”
Faço a leitura deste poema e identifico-me com ele por ser atualíssimo conteúdo. Atual, atual!
Porém, vivi o Rio com outro olhar. A eterna beleza do Cristo Redentor: braços abertos! Nenhum “João Gostoso” se atira na Lagoa Rodrigo de Freitas. O pão de Açucar é doce para gringos. As cigarras zinem convidando o verão. Os camelôs fazem “a alegria das calçadas” como se não ouvissem as balas miserando.
Vou à praia. Vastidão do oceano. As ondas coreografando. O mar imenso “ulula” como o Minuano. Mas, não impede meus banhos de cuia…
Largo a areia queimante e volto pra casa de Lizanka. Não encontro nenhuma “garota de Ipanema”. Gordas, anarquistas, peitos de fora, fedorentos e o “fio dental” ignorado pelos homens…
Ao entrar no apartamento da Lili, a grande surpresa. Orquídeas alvas dançando nos jarros. A toalha da mesa encantando os gostos mais exigentes. A casa se enche de convidadas. Nada de coquetterie. Música tocada por sorrisos largos e abraços apertados. Presentes lindos.
Taças de champagne. Cardápio com sabor do mar. Chics copeiras: Dona Regina e Dona Silvana. De repente, surge um bolo belíssimo, com 80 rosas brancas. Tomada por tamanha emoção, não consegui agradecer. O coração palpitou e o verbo se fez mudo.
Naquelas rosas, o meu imaginário vislumbrou a inquestionável generosidade de LIZANKA; a solidariedade de TULENKA.
22 de setembro! 24 de setembro! 80 anos celebrados com ternura e carinho.
Mesmo sendo véspera de um vinte-e-quatro, fiz do silêncio uma canção e da saudade um hino de Fé!
Graças ao SENHOR pelo dom da Vida.
E a Ele suplicarei sempre a felicidade de minhas filhas, neta, irmã, familiares e de todos amigos que me brindaram com suas mensagens e telefonemas.
CANTAI AO SENHOR!
(*) Ensaísta

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